Matrix-Hakomi e um olhar sobre o treinamento no Brasil – Entrevista com Alex

 

Há três meses atrás tive o privilégio de viajar dos EUA para o Rio para participar do segundo bloco do atual treinamento Matrix-Hakomi. Como uma estudante apaixonada tanto do MatrixWorks quanto do Hakomi separadamente, fui ao Rio para ver como essas duas modalidades estão sendo combinadas e experimentadas juntas. Como nunca havia estado no Brasil antes, não tinha certeza do que esperar.

Fui acolhida em uma comunidade incrivelmente quente, vibrante e amorosa, que está vivendo a essência deste trabalho com grande paixão e coração. E testemunhei o processo de criação de um sistema muito vivo em um poderoso campo de presença amorosa, que acolheu a autêntica expressão e vulnerabilidade de cada membro, conforme o necessário para o todo.

O encontro com o MatrixWorks…

 

Quando eu encontrei pela primeira vez o MatrixWorks há dez anos, eu tinha terror a grupos. Minha principal estratégia para entrar em novos grupos era tentar ficar em silêncio e ser invisível, para evitar toda possibilidade de julgamento e crítica. Entretanto, no MatrixWorks, me senti segura e conectada quase que imediatamente.

Aprendi rapidamente que era impossível ser invisível em um grupo porque, como um sistema vivo, cada membro do grupo está afetando esse sistema. Como seres humanos, estamos sempre sentindo e sendo sentidos pelo outro o tempo todo.

Ficou claro para mim que meu desejo mais profundo não era ser invisível, mas ser profundamente vista, sentir que eu pertencia e que minha contribuição era valiosa para o todo.  Aprendi que todos os grupos e relacionamentos precisam experimentar o caos para chegar a novos níveis de conexão, e esse caos não precisa ser assustador. Ser capaz de expressar a minha verdade e experimentar conflitos, enquanto confio que o grupo ama e cuida de mim foi emocionante e libertador. E, finalmente, descobri que me sentia mais viva, criativa e amorosa quando fazia parte de um grupo como este, como nunca me senti estando sozinha.

O impacto…

Eu continuei a participar dos eventos do MatrixWorks e achei que isso me deu uma perspectiva única e valiosa sobre os grupos dos quais me tornei parte ao longo dos anos. O que eu mais gostava era assistir a inteligência coletiva e criatividade única de um grupo bem conectado emergir, sentir que algo novo e surpreendente está querendo nascer no mundo… E é somente através da conexão do grupo que isso pode acontecer. Adoro ver esta energia se construir e se mover, como uma bola que cresce a medida que passa entre os membros, com o resultado final que nenhuma pessoa poderia prever. Isso é mágico para mim! Eu também vi e experimentei a profunda cura e transformação que só parece possível em grupos bem conectados.

Percebi que as pessoas muitas vezes se permitem correr enormes riscos pessoais e emocionais quando sabem que estão seguras e valorizadas no grupo, como se a liberação de antigas limitações e a reivindicação de novas partes de si se tornassem possíveis e reais somente quando testemunhadas pelo grupo. Além disso, fiquei fascinada com a universalidade desse tipo de cura, no sentido de que o trabalho que um membro faz parece ser feito por todos os membros do grupo.

Os interesses…

Penso que o que mais me fascina sobre os grupos são as suas propriedades emergentes, a inteligência coletiva e a capacidade de uma transformação pessoal profunda que naturalmente surge em grupos saudáveis ​​e bem conectados.

Estudo MatrixWorks para aprender a apoiar os grupos a serem sistemas vivos capazes de gerar esse tipo de inteligência. Ainda estou entendendo o que o meu trabalho no mundo quer ser e como vou aplicar este aprendizado mas estou interessada na inteligência da natureza, do ser vivo da própria Terra e como nos relacionamos com essa inteligência maior da qual fazemos parte. Tenho trabalhado há algum tempo na conservação da Floresta Amazônica equatoriana.

O que mais me inspira na comunidade indígena que eu trabalho é como eles consideram a floresta como um ser inteligente, vivo e se vêem enquanto participantes dessa inteligência. Estou curiosa sobre onde a inteligência do sistema vivo humano se encontra e participa na inteligência do ecossistema vivo, onde a matriz humana se encaixa na matriz da Terra e como usar o brilho da inteligência grupal para se comunicar mais profundamente com nosso planeta vivo.

Aprendizados essenciais…

Tem sido de que a inteligência coletiva do grupo é maior do que a soma de suas partes e que exige que a energia flua através de cada membro. Quando estou em grupo e sinto uma forte emoção surgir ou uma nova ideia, agora acredito que é minha responsabilidade compartilhá-la, mesmo que não entenda o porquê. Pode ser exatamente o que alguém precisa ouvir, pode ser um “peixe voador”, e necessário para o desdobramento do todo. Meu tempo com o grupo brasileiro me deu exatamente a experiência que eu precisava para confiar nisso ainda mais profundamente.

Algo que lutei desde o início foi o desejo de me sentir mais conectada, como recém-chegada. Eu sei que essa conexão vem de compartilhar, ser vista e sentida, já que o feedback é o alimento para os sistemas vivos e senti-me chamada a compartilhar minha luta com a sensação de estar desconectada. No entanto, como eu estava lá como assistente, eu acreditava que meu papel era apoiar os participantes, em vez de levar meu próprio processo pessoal ao grupo. Eu experimentei um grande “aperto interno” que me lembrou das minhas primeiras experiências grupais de me sentir dolorosamente desconectada, mas incapaz de falar por medo de que minha expressão não fosse bem-vinda. Quando finalmente compartilhei o que estava enfrentando com o grupo, o alívio foi tremendo, provavelmente porque liberou um grande ponto de energia presa para todo o sistema.

Ser vista na minha verdade e vulnerabilidade criou conexão imediata. E o calor e a bondade que tantas pessoas estenderam em minha direção foi impressionante. Foi uma verdadeira experiência sentida nas palavras de Mukara: “Você nasceu em um mundo amoroso”. A magia do gênio do grupo é que ele tende a dar a cada um de nós exatamente o que precisamos, e não consigo imaginar um grupo mais amoroso para me ajudar a aprender mais uma vez esta lição.

Outra parte do meu aprendizado veio do fato de que eu cheguei no Rio incapaz de falar uma palavra em português e me sentindo muito estrangeira, pois tarefas simples como comprar mantimentos eram desafiadores. Percebi imediatamente algumas coisas: que me senti extra vulnerável; que as pessoas brasileiras geralmente são excepcionalmente gentis e dispostas a ajudar, e essa comunicação acontece muito mais com energia e emoção do que eu normalmente percebo conscientemente. A minha falta de português acabou sendo um presente, pois uma das intenções que eu tinha estabelecido para mim era praticar o rastreamento da energia do grupo como um sistema vivo – para aplicar as habilidades de rastreamento que aprendi com Hakomi ao grupo como um todo. Quando chegou a hora do trabalho em duplas ou as reuniões dos DreamTeams, lembro-me de olhar para a sala e, no começo, ficar sobrecarregada pelo mar de conversas ininteligíveis. Mas quando eu me permitiria apenas estar com um pequeno grupo de cada vez, perceber posições corporais, movimentos e tom de voz, cada par parecia criar um mundo inteiro para si.

Descobri que meu próprio corpo era o meu melhor instrumento de compreensão. Que ao ter um olhar gentil e manter uma grande parte da minha atenção na minha própria experiência interior, a energia emocional do grupo ou do par naturalmente me impressionaria e eu poderia rapidamente ter uma idéia do que estavam experimentando e realmente sentir isso. Então, minha barreira de idioma acabou ajudando-me a confiar na experiência interna do meu corpo como meu principal instrumento de compreensão.

Fonte: Pixabay

 

Também fiquei impressionada com as conexões individuais muito fortes que experimentei com tantos participantes, apenas em virtude de estar na presença do outro. Essa visão profunda e honrada uns dos outros sem palavras é uma das coisas que mais me tocou sobre minha experiência.

Algo que se destaca é que o feedback que recebi de muitos participantes era diretamente sobre minha alma, o que contribuiu para minha impressão geral de que os brasileiros parecem experimentar a vida e os relacionamentos humanos mais como almas encontrando almas, ao invés de egos ou personalidades, como é mais a norma no meu país. Isso parece permitir mais vulnerabilidade, autenticidade e plenitude de expressão, bem como uma maior disposição para amar incondicionalmente, que foram todos palpáveis ​​na minha experiência do grupo, bem como do país!

Uma mensagem para o grupo…

O que eu gostaria que vocês soubessem é que eu consegui ver o grupo completar a sua fase inicial de conexão. Eu consegui ver todas as partes do sistema vendo e conhecendo os outros, e tornando-se visto e conhecido a si mesmos. Eu vi vocês confiando mais que vocês pertencem, que vocês estão seguros para expressarem suas verdades, que cada contribuição é importante para o todo. Vocês têm construído a Matriz de relacionamentos que é o sistema vivo, que é o útero onde irá crescer cada novo indivíduo. E, como vocês sabem, quando existe segurança e confiança suficientes, o caos surge naturalmente.

Minha mensagem é que, ao invés de ser traumático, quando vocês se comprometem em permanecer em relacionamento, o conflito e o caos podem ser extremamente libertadores. Na minha experiência, chegar a expressar plenamente tudo o que está surgindo em mim, enquanto souber que eu sou amado e cuidado é emocionante. E o grupo precisa de sua verdade autêntica para evoluir. Se vocês se seguram, como eu fiz, estarão causando um bloqueio energético no sistema. Eu encorajo vocês a confiarem no grupo e trazerem ainda mais a si mesmos para frente.

A inteligência do sistema vivo convida as energias universais e arquetípicas para tecer em toda a matriz. Ser um vaso para essas energias poderosas e fluidas para expressar, enquanto sabendo que vocês estarão seguros e amados, traz um profundo potencial de cura e transformação. Lamento que não consiga estar aí para a próxima fase de sua evolução, pois imagino que a criatividade e a consciência coletiva que grupo de vocês é capaz de gerar são verdadeiramente ilimitadas. A plenitude  na qual vocês moram e amam faz com que vocês sejam reais pioneiros neste trabalho!

Estou incrivelmente agradecida por ter tido a oportunidade de conhecê-los e juntar-me ao seu Matrix. Foi um dos sistemas mais animados e amorosos que já senti. Obrigado por viver com tanta paixão, por ser uma fonte de luz no planeta, e por me acolher tão calorosamente com seus corações lindos e abertos.

xo, Alex.


Edição: Tulane Paixão

Revisão: Adrianne Ogêda