Hakomi é uma forma de psicoterapia somática que tem por base o uso da atenção plena. O corpo é a porta que serve de acesso às crenças inconscientes e primitivas, que moldam nossas vidas, relacionamentos e auto-imagens.
No idioma dos índios americanos Hopi, Hakomi significa: “como você se posiciona em relação aos muitos reinos da existência?” Ou, na sua tradução mais moderna: “quem é você?”
Como se chega lá? No Hakomi, segundo seu criador Ron Kurtz, é fazendo a outra pessoa se sentir segura, é tendo um respeito ativo e profunda compaixão por todos os seres em suas singularidades.
O símbolo usado no logotipo do Hakomi é o da garça. Não encontrei nos livros as razões históricas que levaram a essa escolha. Por achar importante a linguagem oculta nos símbolos, faço uma pesquisa dedutiva.
Genericamente o arquétipo do animal se relaciona às camadas profundas do inconsciente e do instinto. Os pássaros, por sua vez, porque voam, servem de símbolo às relações entre a terra e o céu, entre mundo físico e o espiritual.
Mais especificamente a garça, por sua atitude imóvel e solitária, equilibrada num pé só evoca naturalmente a contemplação. Essa ave pernalta fica ali 100% presente, ao mesmo tempo paciente e pronta para alçar vôo ou para ciscar seu alimento. É a imagem perfeita do estado de atenção plena(mindfulness), a atitude de observação sem julgamento, o princípio básico do Hakomi.
No ocultismo antigo, por causa do seu bico fino e penetrante a garça passava por símbolo da ciência divina. É a fênix, o pássaro mítico de origem etíope de extraordinária longevidade que na tradição cristã representa o triunfo da vida sobre a morte.
Também é, nas tradições européias e africanas, o investigador, “aquele que mete o nariz (o bico) em tudo”!
Por serem serpentárias, essas aves também são tidas como adversárias do mal, um animal antisatânico como a íbis, símbolo de Cristo.
Já a garça real, a cegonha, representa a compaixão filial, pois se dizia que alimentava os pais velhos. Também era comum se contar prás crianças que era a cegonha que trazia os bebês no seu bico desde algum lugar do céu, uma imagem poética que fazia dessa ave migradora a mensageira da renovação da vida .
Na tradição chinesa, há quem lhe atribua pelo simples olhar o poder da concepção.
No Japão, ela é o “tsuru”, símbolo da imortalidade e da paz.
A garça é um animal cosmopolita. Está presente nos mundos velho e novo, ativando o imaginário do homem desde tempos remotos.
A riqueza existente nos simbolismos da garça talvez possa dar a dimensão vasta para
onde o Hakomi, essa palavra-pergunta: “quem é você?”, pode nos levar.
Julia Andrade,
psicoterapeuta junguiana, certificada no Matrix-Hakomi
contato: juliaandrade@terra.com.br
Fontes:
Chevalier, Jean & Gheebrant, Alain; Dicionário de Símbolos; José Olympio Ed.; 18a edição.
Kurtz, Ron; Body-Centered Psychotherapy, The Hakomi Method; LifeRhythm; CA-1990.