Existem várias formas de fazer isso, mas a mais básica é ter um ativo e profundo respeito e compaixão por todos os seres. (Ron Kurtz)
O método Hakomi, psicoterapia que estudamos e vivenciamos no treinamento Matrix-Hakomi do Brasil, é uma abordagem desenvolvida por Ron Kurtz nos anos 70 que tem como intenção ajudar o outro na sua busca por autoconhecimento. Resumidamente, o método pode ser definido como um estudo auto-assistido (Leia mais em “A Essência do Método“) que se sustenta pela utilização terapêutica de cinco princípios: Atenção Plena (Mindfulness), Não-Violência (Nonviolence), Organicidade (Organicity), Unidade (Unity) e Holismo Mente-Corpo (Mind-Body Holism).
Sustentado por esses princípios, o primeiro estágio da psicoterapia baseada no Hakomi é o Contato, fundamental para a criação da relação terapêutica. E o primeiro questionamento que temos é: Como estabelecer esse contato? Quais são os elementos necessários para que esse contato se dê de maneira respeitosa e eficaz?
Essas questões – abordadas nos primeiros worshops da Formação Matrix-Hakomi do Brasil – são fundamentais para permitir a conexão entre o terapeuta e o cliente e fazer com que o mesmo se sinta seguro.
Explorando a CONEXÃO
A base para estabelecer o Contato é a presença. E a conexão que buscamos nesse momento tem a ver justamente com a presença. É a partir dela que poderemos experimentar um tipo de relação em que os dois [terapeuta e cliente] estejam em contato e realmente conectados.
Mas o que significa estar presente? Pode parecer uma atitude comum e até recorrente em muitas de nossas práticas profissionais. Seria um estado de entrega, “estar de corpo de alma”? Talvez…
Mas como está esse corpo? Como está essa alma?
Estar presente diz do ato de manter um foco constante na atividade e na experiência presente, que estão acontecendo no momento, tanto no que diz respeito a si próprio quanto no que diz respeito ao outro. Na abordagem do Hakomi, há a aposta em uma qualidade de presença, uma presença amorosa (loving presence). Este estado pode ser sintetizado como a junção permanente entre a presença e a compaixão. Entretanto, estar presente de um modo compassivo não pode ser confundido com um jeito de ser que parece piegas. A compaixão, para não entrar nesse lugar, precisa ser experenciada como uma atitude profundamente respeitosa, acolhedora e, principalmente, de não julgamento. É um exercício e um modo de estar que desenvolvemos na nossa relação com a vida, conosco e com os outros.
A presença amorosa então,
Em um tempo muito curto pode estabelecer no cliente a sensação de estar seguro, cuidado, ouvido e compreendido. A auto-exploração, especialmente ao usar atenção plena, coloca os clientes em posições extremamente vulneráveis. Um terapeuta em presença amorosa ajuda os clientes a permitir esta vulnerabilidade e oferece o melhor contexto para o auto-estudo assistido acontecer. (Kurtz, 2015, p. 5, cap. 3)
Um primeiro passo para estar em presença amorosa é sentir algo no outro que te inspira. Nossa humanidade comum pode ser inspiradora, um olhar, uma história… Assim podemos experimentar uma vivência nutritiva para ambos.
Tendo como base esse estado que está mais relacionado à um modo de ser na vida do que algo que acionamos e desligamos após a consulta, a fase do contato se torna mais fácil e naturalmente nutritiva.
Alicerçado nessa qualidade de presença, o rastreamento (tracking – uma das habilidades da fase do contato) das sensações corporais, tensões, emoções e tudo o que pode fazer parte da experiência do cliente naquele momento enfim dará condições para que o contato se desenvolva. Momento onde o terapeuta deve demonstrar – por meio das frases de contato, por exemplo – que compreende as emoções que estão contidas nesse momento, que está sobretudo interessado no que o cliente está sentindo e experimentando quando traz uma questão, acolhendo e aceitando o que está sendo narrado e vivenciado.
A vivência desses processos permitirão a conexão com o cliente que, alicerçada nessa qualidade de presença pode criar um relação terapêutica incrivelmente potente e colaborativa.
Vendo e sentindo presença amorosa no terapeuta, o cliente (talvez sem perceber) reconhece uma oportunidade para explorar questões fundamentais e para expressar emoções profundas. Desta forma, um processo de cura começa a se desenrolar espontaneamente. Essa expressão de sentimentos cria uma oportunidade para o terapeuta ter mais nutrição não egocêntrica. Cada pessoa inspira e é inspirado pelo outro. A presença amorosa inspira cura emocional. A cura inspira presença amorosa. Um sustenta o outro. (Fonte)