Quando inclusão e segurança suficientes acontecerem, o grupo se volta na direção do caos e do conflito (1)
Como esta formação prima pela interface entre teoria e vivência, podemos imaginar que muitos afetos surgem nesse processo. Os conteúdos abordados, o contato com o outro, nos fazem além de reencontrar e revisitar, descobrir muitos sentimentos. Aos poucos vamos tirando o cobertor da insegurança e do medo e encontramo-nos com a pluralidade de nossas experiências, com aquela baguncinha que na maioria das vezes nos aterroriza. Pouco a pouco, com o contato aumentando, a conexão se revelando, formou-se terreno fértil para os conflitos.
Bem vindos ao CAOS!
(© James R. Eads | Each Day Spent) (2)
O trabalho em subgrupos se intensifica e as diferenças começam a aparecer mais evidentemente. Nos momentos de compartilhamento vamos percebendo o quão importante é sentirmo-nos incluídos e pertencentes ao grupo por inteiro e, ao mesmo tempo, sermos nós, por inteiro.
Se encontramos um continente seguro, as diferenças e singularidades permanecem e o desafio é que elas possam ser respeitadas e bem-vindas. Os ruídos dos incômodos, das incertezas, precisam ser ouvidos, verdadeiramente ouvidos. E quando isso não acontece? O palpite é que eles gritam pelo corpo e nos escapam, seja individualmente, seja coletivamente.
Como beirar o caos com 42 graus de febre contente?
Entretanto, se os ruídos se tornarem música, podemos direcionar nossa atenção para eles como quem está distraído e ouve um passarinho cantar, sabe?! Lá longe… E quando direcionamos nossa atenção, vemos que o pássaro cantava bem no quintal de nossa casa.
Quem sabe possamos ouvi-los com mais prazer, com curiosidade e acolhê-los como parte de nós?
Constantemente nossos corpos produzem sons. Alguns esquisitos, que de imediato não reconhecemos, ignoramos e tapamos os ouvidos ou cedemos aos outros a autoria de nossa própria composição e geramos uma grande confusão.
Mas podemos dançar com eles e nos arriscar a produzir novos arranjos, nos inspirar a cantarolar outras músicas e, se for o caso, convidarmos uns aos outros a participar desse processo.
Nos momentos em que pudemos experimentar um ambiente seguro, com a sensação de que nós éramos bem vindos, de que nossas músicas e nossos ruídos eram bem vindos, seja no interior dos subgrupos, nos DreamTeams, na experiência nos aquários (Fishbowls) ou em uma conversa com um dos assistentes, uma experiência dolorosa tornou-se uma experiência de liberdade.
Se inclusão suficiente for cultivada, o conflito será muito mais fácil de se dissipar, pois os membros podem confiar que o grupo os valoriza e que o grupo se preocupa com eles. Quando as pessoas se sentem amadas e respeitadas, eles têm menos medo das diferenças. (3)
Globalmente vivemos em tempos esquisitos, há de se perceber e de se sentir, não é mesmo? Algumas diferenças têm sido aniquiladas e aquilo que nos singulariza em nossa humanidade comum têm nos feito sofrer. Todavia, temos a opção de experimentar um novo paradigma, uma nova concepção para o caos. Fazer do ruído uma canção.
De acordo com a perspectiva do Matrixworks,
O conflito é reformatado como um portal para a criatividade, pois treina a capacidade do indivíduo e do grupo a perceber, nomear e trabalhar com as diferenças como presentes/dons. Uma vez que a pessoa libera o medo e o evitar dos conflitos, ela pode viver com mais amor e conexão. (4)
Notas de uma tripulante: Além de estarmos na maior parte do tempo trabalhando em subgrupos e pares, poder contar com uma equipe de assistentes e com a vasta experiência e profunda sensibilidade de nossas professoras Jaci Hull e Mukara Meredith foi fundamental na navegação. Era como olhar em volta e não sentir-se só no mar revolto. Cada palavra-sopro-sol, tornava-se ora força para nos aprumarmos em frente ou recuar se fosse preciso, ora brisa suave para relaxar a tensão ou até mesmo o calor que precisávamos para nos abrigar durante a noite. Fica aqui um registro de gratidão pela companhia!
E vocês, tripulantes? Quais notas acrescentariam ao nosso diário de bordo?
Até mais!
Referências
(1) Meredith, p. 8, Grupos como Sistemas Vivos
(2) A mudança é apenas o ato de se tornar outra coisa, e já começou a acontecer muito antes de você estar pronto. Ao longo do tempo, a mudança é a única coisa em que conseguimos confiar. Então, se ela for acontecer de qualquer jeito, você pode tentar entender por que está acontecendo e perceber que a mudança pode estar apenas do seu lado. [tradução livre]
(3) (4) Meredith, p. 9, Grupos como Sistemas Vivos