GEP e a Sombra Dourada

Transformar chumbo em ouro. Essa era uma das buscas dos alquimistas…

O ouro simbolizando a perfeição, a elevação, estado de pureza a que todas as matérias deveriam ascender. Para isso, água, fogo, e outros elementos se misturariam alquimicamente.

Transmutação… a metáfora da transformação alquímica de chumbo em ouro abriu o convite para mergulharmos nos estudos (GEP*). Nós, alquimistas de nós mesmos, nos debruçamos na reflexão sobre nossas potencias de transformação. Que recursos dispomos para isso?

 

Em nossas buscas pessoais de aprimoramento, que alquimias podemos realizar?

 

Conduzido gentilmente por Júlia Andrade e Carlos Mello em meio ao delicioso bairro da Urca, nos demos as mãos para mais um mergulho. Juntos é melhor e possível! E disso sabemos pois tem sido o cerne de nossas experiências:

 A inteligência do coletivo, que com seu acolhimento e sabedoria, acende em nós nossos próprios recursos, amparando-nos no encontro com as fragilidades e fortalecendo-nos para os confrontos necessários.

No livro “O segredo da flor de ouro[1]”, Jung diz “A Flor de Ouro é um símbolo mandálico que encontrei muitas vezes nos desenhos dos meus pacientes (…) ela é ordenada como uma flor crescendo da planta em um fundo obscuro”.

A flor de ouro, diz ainda o psicanalista em seus comentários, se obtém por intermédio das transformações da consciência espiritual que, por sua vez, dependem do coração. 

Aqui a ideia da alquimia é retomada como o processo de transformação da Alma, a psique contaria com um princípio estruturador que unificaria os conteúdos arquetípicos (que Jung denominou de self ou si mesmo, centro ordenador e unificador da psique total, inconsciente e consciente). Chegar a esse ouro, essa transmutação de alma, é, então, um processo que envolve a busca de uma totalidade, de uma integração entre nossos polos. Luz e sombra. O que está obscuro com aquilo que se dá a ver.

 “Todo mundo carrega uma sombra, quanto menos incorporada à vida consciente mais densa ela é. Se uma inferioridade é consciente, sempre se tem oportunidade de corrigi-la. Porém se  for reprimida e isolada da consciência jamais será corrigida, e pode irromper, formando um obstáculo inconsciente aos nossos mais bem-intencionados propósitos… Não se ilumina apenas imaginando figuras de luz, mas também tornando consciente o que está escuro.” (C. Jung)

Sombra é qualquer das nossas partes que abandonamos, projetamos, negamos. Age como uma barreira, impedindo a integração de nossa totalidade.

A ideia da sombra, como aquilo que todos os corpos densos possuem, traz os desafios de nos confrontarmos com o que negamos em nós mesmos. Com nossas crenças limitantes. Quando falamos da sombra, geralmente pensamos em nos aspectos mais “vergonhosos” aos quais repudiamos. Muitas vezes não consideramos que também negamos nossa luz mais brilhante. Nossas forças, belezas, potências.

A Sombra Dourada

A sombra dourada seria a nossa grandeza, potência submersa, que esconde forças desconhecidas que podem nos ajudar a integrar nossas dores, dificuldades, temores. Nela está a potência de cura para nossos desafios particulares da vida. É responsável pela espontaneidade, pela criatividade, pelo insight  e pela emoção profunda, características necessárias ao pleno desenvolvimento humano. A ideia é que possamos tornar a nossa sombra mais evidente possível, procurando um trabalho que parta do interior para o exterior, como é desenvolvido no Matrix-Hakomi no auto-estudo assistido em Atenção Plena.

À medida em que nos tornamos mais conscientes dos nossos lados mais obscuros, integrando-os, é possível acessarmos os mecanismos que concorrem para diminuição de nossa luz. É muitas vezes negando nossa força e capacidade que acabamos nos instalando em lugares de fragilidade, de obscuridade.

Acessar as sombras é o desafio de integrar. Quando projetamos nossas sombras, deixamos de perceber sua presença em nós.

Nosso desafio é desenvolver habilidades para incorporar as sombras, com delicadeza e com olhar amoroso. Tendemos a expulsar aquilo que nos reporta a nossas fragilidades, nossos traços mais obscuros… e, no entanto, é podendo olhar para eles que, tal qual alquimistas, nos é possível uma maior integração.


[1] GEP significa Grupo de Estudos e Práticas. Acontece entre os módulos da formação Matrix Hakomi Brasil.

[2] Não há registro bibliográfico de que a expressão “sombra dourada” tenha sido cunhada por C. Jung,  mas sua visão do aspecto luminoso da sombra, seus escritos sobre o ouro alquímico e o livro “O segredo da flor de ouro” certamente serviram de inspiração.  Outros autores mais recentes aparecem usando essa expressão. Em 1992, William A. Miller escreveu sobre a “sombra dourada“ em seu livro: “Your Golden shadow, discovering and fufilling your underdeveloped self” e Robert Johnson, autor do livro “Owing your own shadow” , diz que há “ouro” na sombra.


Texto: Adrianne Ogêda e Julia Andrade

Edição: Tulane Paixão